As questões
de Responsabilidade Social Corporativa ou de Responsabilidade Social podem e
devem extrapolar para além da esfera empresarial. Mas mesmo dentro desta esfera
não são apenas questões de iniciativas ou intenções, mas questões relacionadas
com o impacto social – negativo ou positivo – da actividade de uma empresa. É
bom perceber que boa parte da actividade de qualquer organização tem impacto ao
nível social e não só, claro. Por muito óbvio que isto possa parecer a
realidade mostra que embora até se possa dizê-lo, não o fazem certamente.
Para
explicar melhor esta ideia vou exemplificar com o recurso ao contexto da
situação de Portugal a vários níveis, com algumas questões para reflexão sobre os
respectivos impactos sociais.
Na passada
quinta-feira, dia 13 de Outubro, o Primeiro-Ministro português, na apresentação
do novo orçamento de estado, enunciou mais uma série de medidas de austeridade,
especialmente violentas. As medidas passam pela redução, corte de salários e
benefícios, aumento de impostos, alargamento da carga horária de trabalho,
entre outras. Como se calcula – e não é necessário conhecer a realidade do país
– medidas como estas afectam brutalmente a maioria da população, ou seja, têm
consequências ao nível social, mas também ao nível da economia.
Casos:
Num relatório recente,
onde foram avaliadas a maioria das grandes empresas públicas portuguesas -
grande parte delas com prejuízos crónicos – verificou-se que os custos mensais
por colaborador em 12 empresas, em média são de 3.500 euros. Em duas outras o
salário médio é ainda superior. Comparando com o salário médio bruto dos
portugueses, que é de 900 euros, a questão pode tornar-se chocante. Mas o
problema nem está nesta comparação, mas na constatação que estas empresas não
têm receitas próprias suficientes sequer para os custos com pessoal, quanto
mais para a totalidade das despesas. Sendo esta uma lógica de gestão
completamente absurda, implica automaticamente uma situação insustentável.
Viver acima
das reais possibilidades foi o que o Estado português e as famílias fizeram nos
últimos anos, resultando na situação actual do país.
Neste
exemplo, se pensarmos ao nível da Responsabilidade Social, podemos verificar
que os colaboradores destas empresas até podem ter boas regalias e condições,
uma minoria de qualquer forma comparando com o impacto social negativo gerado
por esta postura empresarial. Estas condições irrealistas, face à realidade da
organização, geram um impacto que vai muito para além da própria actividade,
desequilibrando as despesas do Estado, afectando os contribuintes em geral e,
em última instância, os próprios colaboradores beneficiados que sofrerão mais
tarde ou mais cedo as consequências, para além da criação de falsas
espectativas aos mesmos e a outros interessados.
Outro caso,
mais internacional. A questão do impacto social das agências de rating. No caso
português na última alteração de rating da república, o país foi confrontado
com uma descida de 4 níveis. Não questionando directamente as razões da
decisão, coloco na mesa se essas decisões não deveriam ter em conta o impacto
social das mesmas?
O rating de
uma empresa que paga para ver a sua condição avaliada é uma coisa e tem
impactos mais restritos. Ora o rating de um país deve ser ponderado de forma
diferente, especialmente à luz de questões sociais. Qual a Responsabilidade
Social dessas avaliações e como é que pode ser avaliada? Será que o impacto
dessas decisões é realmente analisado? Não estará na altura de começar a pensar
no impacto social de actividades que afectam países e populações inteiras? Se
os ratings são por defeito produzidos como referência para investimentos e
investidores, não deveria o impacto e os riscos estarem confinados a esse
âmbito. Provavelmente não é possível, mas o âmbito das avaliações das agências
de rating deveriam ter em conta o próprio impacto da decisão, porque ao
desvalorizar determinado rating as consequências são sempre maiores, mais
abrangentes, para além do seu nível financeiro, económico e social.
Outro caso,
cruzando informação recente do Eurostat relativa a 2010, onde é indicado que
dos 27 países da União Europeia, Portugal tem apenas 5 países menos produtivos.
Isto é mais relevante ainda se verificarmos que em Portugal trabalham-se mais
horas que a média europeia. Assim, uma das medidas implementadas pelo actual
Governo português foi o alargamento da carga horária de trabalho para o sector
privado. Terá as suas vantagens e pode aumentar a produtividade e
competitividade.
Ora aqui as
questões pertinentes de CSR estão tanto para o lado da responsabilidade das
empresas na mudança, como para o lado dos trabalhadores que terão de ganhar
consciência da importância da produtividade, podendo apostar-se num misto de
responsabilidade mútua ou complementar.
Outro caso
ainda, relacionado com situações que facilmente se desequilibram, porque em vez
de se apostar em fornecer meios e ferramentas para um caminho sustentável e
equilibrado, pelo contrário são fornecidos meios e condições para o total
desleixo. É o caso de um relatório
de auditoria do Tribunal de Contas, relativamente à gestão das administrações
dos hospitais públicos, onde são referidas várias questões sobre o sistema
remuneratório dos membros das administrações. Logo, uma das questões pouco
claras é que são os próprios a definir as suas remunerações, mesmo que balizados
por estatutos, mas que dificilmente conseguem gerir sustentavelmente, quando o
desequilíbrio começa neles próprios. Outra é quando alguns médicos desses
hospitais recebem mais do que o dobro que os administradores. Não estando em
causa a justiça de determinadas pessoas ganharem bem, a questão está, mais uma
vez, no equilíbrio entre as receitas e os custos/despesas.
Em termos de
Responsabilidade Social no sector público, especialmente na área da saúde, na
gestão de hospitais, quando a prioridade parece ser a gestão e não a
assistência de quem precisa. Como se pode colocar o CSR a este nível? Quais as
responsabilidades?
Por último,
de referir que, em termos de justiça, pela primeira vez fala-se verdadeiramente
em procurar saber quem e como tem estado a contribuir para o desequilíbrio das
contas públicas. Embora ainda seja algo no campo das intenções, a forma como é
afirmado já, só por si, é extremamente positivo. Sendo possível a identificação
parte das causas e dos problemas é também, só por si só, uma grande forma de Responsabilidade
Social.
The Obvious Revolution
Orex SM
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