Ads 468x60px

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Design verde e design sustentável, uma ilusão?

Li um artigo na Fast Company, onde o designer Gadi Amit, entre outras considerações sobre design, refere que os movimentos de Green Design e Design Sustentável estão de certa forma a caminhar na direcção errada.
Ao ler o artigo lembrei-me de um dos aspectos importantes da sustentabilidade em termos de produtos ou objectos, a questão do ciclo de vida. Ou seja, um produto não pode ser indicado como "verde" ou até sustentável simplesmente porque a produção é feita com recurso a energias limpas e renováveis, ou com uso de algumas técnicas mais "amigas do ambiente". Para se verificar estas afirmações deve-se considerar todo o ciclo, o que vai desde as matérias-primas, aos transportes e distribuição, logística, produção, etc. É mais correcto afirmar que existem preocupações ambientais no processo de produção do que dizer que é "100% verde". E todas estas questões envolvem um ciclo. Se o consumidor estiver cada vez mais informado e procurar cada vez mais informação sobre os produtos e empresas, estas últimas cada vez mais sente-se na obrigação de comunicar o que fazem, de promoverem a transparência.
Mas voltando um pouco à questão de Amit, ele diz que, por exemplo, na área da tecnologia não podemos falar propriamente de sustentabilidade se é promovido e estimulado, a um ritmo cada vez maior, a troca por novos aparelhos - sejam eles mp3, mp4, telemóveis e outros - sem haver a preocupação sobre o que fazer com os aparelhos "desactualizados". Aqui a palavra desactualizados é engraçada, porque os objectos não deixam de funcionar nem de estarem "à altura das circunstâncias", apenas saíram, num curto espaço de tempo, 2 ou 3 modelos acima deste. Até que ponto podemos pensar nas políticas e iniciativas de sustentabilidade da maioria das empresas tecnológicas produtoras deste tipo de material, se a preocupação é apenas com a produção, não o que fazer com o excedente incalculável de tecnologia "desactualizado". O que fazer com isso? Será que podemos encarar as chamadas preocupações do design com produtos mais verdes, se a preocupação fica apenas a meio do caminho?
Outra questão que Amit levanta, e ainda mais interessante, é a questão emocional. Eu pelo menos ainda não li nada onde se aplicasse a questão emocional à sustentabilidade. Gadi Amit afirma que os objectos que são «loveable» são sustentáveis, ou seja, os objectos a que temos ou podemos ter uma ligação emocional são sustentáveis, porque, diz ele, porque as pessoas tendem a ficar com eles em vez de os deitarem fora algum tempo depois. Ora esta afirmação vai realmente de encontro aos princípios da sustentabilidade, e faz sentido. A emoção pode ser perfeitamente mais uma variável para um processo sustentável ou de sustentabilidade. Não estará o mercado tecnológico a entrar num ciclo demasiado materialista, fomentando o desperdício, ou pior ainda, ignorando os desperdícios que ao ritmo actual tende a aumentar.
Obviamente que temos de ter em conta as regras do mercado, a competitividade, a concorrência muito agressiva, mas mesmo assim, não poderá o design ter estas questões mais em conta. Muito para além da reciclagem, ou da simples informação de onde colocar no Eco-ponto determinado objecto, não poderá o design promover também esta discussão, e incutir nos seus processos criativos e de produção tanto a questão emocional como factor de promoção do não desperdício, para além da promoção do não desperdício em si.
The Obvious Revolution

0 comentários:

Enviar um comentário